As condições para a Consagração da Rússia

por Gregorius D. Hesse, S.T.D., J.C.D. (Cand.)

correção do texto Alan Lucas de Lima (gestor do blogue)



1. INTRODUÇÃO

Ouvimos dizer, já há algum tempo, que o Papa iria consagrar o mundo ao Imaculado Coração de Maria no próximo dia 8 de Outubro. Escrevo este artigo em Setembro, não para predizer as ações do Papa em Outubro (não sou nenhum profeta), mas para delinear as condições necessárias para uma consagração correspondendo aos pedidos de Nossa Senhora e as possibilidades do que possa vir a acontecer. Vários fatos que irão ser mencionados já foram amplamente discutidos em números anteriores de The Fatima Crusader, e por isso farei por evitar repetições desnecessárias.



Escrevo este artigo na minha qualidade de teólogo e canonista, mas, com toda a franqueza, devo sublinhar o fato de que, como a mensagem de Fátima é uma das mais claras que já se viram, para muitas das minhas conclusões não é preciso um conhecimento de Teologia, mas simplesmente o senso comum que Deus nos deu, e que, segundo o escritor inglês G.K. Chesterton era o método de S. Tomás de Aquino. Na verdade, pouco mais é preciso do que senso comum para perceber o que está por detrás das mentiras impertinentes e um pouco disparatado e dos truques do Vaticano na sua conspiração para silenciar Nossa Senhora.



2. OS PEDIDOS DE NOSSA SENHORA

Em 13 de Junho de 1929, estando a Irmã Lúcia a viver em Tuy, na Espanha, Nossa Senhora pediu a Consagração da Rússia com as seguintes palavras, que a Irmã Lúcia escreveu:

“É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração.” (Frère Michel, The Whole Truth About Fatima, vol. II, p. 555).

Como já disse, é uma mensagem muito clara que quase não deixa margem para uma interpretação. Por isso, o próximo capítulo será antes uma explicação.

Não vou gastar tempo e espaço com uma eventual discussão sobre a autenticidade do pedido de Nossa Senhora, embora ela tenha sido recentemente posta em causa por alguém que acha que só os acontecimentos de 1917 receberam a aprovação da Igreja, e não os que tiveram lugar depois.

O absurdo desta posição pode ver-se facilmente pelo fato de nenhum Papa, depois de 1929, ter considerado, por pouco que fosse a possibilidade de que os acontecimentos posteriores a 1917 não fossem autênticos. Suspeitas deste gênero até revelam muito pouco respeito por Nossa Senhora: a própria Irmã Lúcia confirmou repetidamente os fatos posteriores a 1917. Ou eles são autênticos ou ela está incapacitada mentalmente, ou é uma mentirosa, e nesse caso poderíamos perguntar por que é que Nossa Senhora não tinha sido informada por Deus acerca deste aspecto do futuro...

Muitos números anteriores de The Fatima Crusader refutaram este gênero de dúvidas e apresentaram provas suficientes da autenticidade das mensagens que foram recebidas e reveladas depois de 1917.

3. O SIGNIFICADO EXATO DAS PALAVRAS DE NOSSA SENHORA

A Consagração da Rússia

Num número anterior de The Fatima Crusader demonstrei que uma consagração nunca é genérica ou casual. Escrevi então:

Qualquer consagração é específica. Assim como não é suficiente consagrar o mundo no seu todo, para que a Rússia, a Áustria ou qualquer outro país seja consagrado, não basta consagrar o povo de Israel, nem mesmo consagrar os Levitas; o indivíduo tem de ser consagrado pelo seu nome, como podemos ver pelo exemplo de Aarão: “Diz a todos os homens sábios de coração, a quem Eu dei sabedoria nestes assuntos, que façam vestes para Aarão, para a sua consagração, para que Ele me possa servir como sacerdote... Ficará sobre a fronte de Aarão, e ele levará todas as iniquidades cometidas pelos filhos de Israel em todas as suas oblações e nos dons que oferecerem e consagrarem. E estará continuamente sobre a fronte Aarão para que sejam aceitáveis perante o Senhor... Depois de impores estas vestes a Aarão e aos seus filhos, unge-os e ordena-os. Consagra-os para que Me sirvam como sacerdotes”. (Ex 28, 3- 38,41)

Esta é uma das razões porque não basta consagrar o mundo, que inclui muitos países e não só um.

Há mais que devemos considerar:

Como uma consagração deve ser específica, também deve ser individual. No batismo, que é a primeira consagração de um Cristão, a criança tem de ser batizada individualmente. Até nos velhos tempos, quando os missionários ainda tinham muitas conversões para fazer (em vez de louvar os “méritos” das outras religiões), não bastava batizar uma aldeia! Nem sequer bastava batizar cada indivíduo; tinha de se lhe dar um nome. Acontece o mesmo na Confirmação, em que recebemos outro nome. O casamento é inválido se um dos cônjuges tiver dúvidas sobre a identidade do outro. No Sacramento da Ordem, cada candidato é apresentado pelo seu nome, tal como sucedeu com Aarão.

Durante a Antiguidade, acreditava-se na importância dos nomes. Não se preocupavam muito se a “sede da alma” era o coração, o cérebro ou o rim esquerdo, mas preocupavam-se com o nome: o nome de uma pessoa – de certa maneira, segundo os antigos – ERA a sua alma.

Quando, no antigo Egito, se decidia eliminar o nome de uma pessoa, era coisa pior do que a morte. Quando o Faraó Amenófis IV (Amenhotep IV, 1352-1336 B.C.) decidiu mudar o sistema religioso do Egito, mudou o próprio nome de “Amenhotep” (= Amun está satisfeito) para Echnaton (Akhenaten = Aten é a Vida, ou a Glória do Disco Solar) para significar a mudança na sua alma. Quando ele morreu e o Egito voltou ao sistema antigo, a múmia desapareceu juntamente com o seu nome, porque eliminar o nome era eliminar a pessoa.

A Sagrada Escritura realça a importância dos nomes, tal como Cristo fez. Quando Simão, filho de Jonas, se tornou o Seu Vigário, mudou o nome para to Kephas, Petrus, a Pedra sobre a qual foi construída a Igreja (Cf. Mt 16, 17ss.). A Igreja celebra o Santíssimo Nome de Jesus (2 de Janeiro, ou o Domingo antes da Epifania) e o Santíssimo Nome de Maria (12 de Setembro), que comemora a vitória de Nossa Senhora contra os Turcos em 1683.

Mas é o Nome de Deus que é sagrado acima de todos. Embora a veneração católica dos Santíssimos Nomes não tivesse uma tradição vinda do tempo dos Apóstolos, sendo de origem mais recente (Séculos XVI e XVII), desde que Deus apareceu a Moisés, o Seu Nome é Muito Santo: Ele responde à pergunta de Moisés sobre a Sua identidade com as palavras: EGO SUM QUI SUM (Eu Sou Quem Sou; Ex 3, 14). Desde essa altura, pronunciar este Nome em vão passou a ser passível de morte, e por isso, na sua cegueira, os judeus e os fariseus apanharam pedras para lançar a Jesus, quando Ele disse: Antequam Abraham fleret, EGO SUM (Antes de Abraão existir, Eu sou; Jo 8, 58). Não é ousado nem temerário dizer que a palavra “Deus” é apenas uma descrição. O EGO SUM é realmente ELE, Que, na Sua Simplicidade infinita e perfeita, “não pode” dizer senão “EU SOU”.

Mas estas considerações poderão aplicar-se a um país?

No Egito da Antiguidade, qualquer nome era importante. No chamado pergaminho menfita, copiado na pedra de Shabaqo, o Deus Pai cria tudo no universo, pronunciando cada nome. Quando Ramsés II (1279-1213 A.C.) aumentou uma velha aldeia para se tornar a sua cidade de residência, chamou-lhe Pi-Ramesse, a Sede de Ramsés, para que a santidade do seu nome protegesse a cidade.

O nome Israel significa: Lutar por Deus. O nome do país é sagrado! Para os Católicos, Roma significa (ou significava) a Cidade Santa, e nome de "Roma" significa muito mais do que uma aglomeração barulhenta e movimentada de casas e ruas cheias de italianos.

Finalmente, devemos lembrar-nos de que Nossa Senhora mencionou o Anjo da Guarda de Portugal!

Tudo isto nos mostra claramente que um país - por mais flexíveis que sejam as suas fronteiras políticas - pode considerar-se individual. A Suíça tem quatro línguas oficiais, não contando com os diletos locais, e nem por isso deixa de ser um país individual.

E é também um individual que Nossa Senhora deseja explicitamente que seja consagrado, porque mencionou a Rússia várias vezes, além do desejo da consagração.

A Irmã Lúcia de Fátima disse em 1957 ao Padre Fuentes:

"Muitas vezes a Santíssima Virgem disse aos meus primos Francisco e Jacinta, assim como a mim, que [...] a Rússia será o instrumento do castigo escolhido pelo Céu para punir todo o mundo [pelas seus pecados], se não conseguirmos antes a conversão daquela pobre nação" (cf. The Fatima Crusader Nº 63).
A Rússia é o instrumento de castigo do mundo, não é o mundo que se castiga a si próprio; portanto, é a Rússia que deve ser consagrada.

Deve notar-se que Nossa Senhora falou explicitamente da "Rússia" na altura em que o seu nome oficial era: SSSR (Soyuz Sovietskikh Sotsialistitsheskikh Respublik = União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), obviamente referindo-se ao nome do país, não à opressão comunista de (oficialmente) 22 repúblicas.

Mesmo se não pudéssemos estabelecer a importância dos nomes, e também dos nomes dos países, teríamos ainda que considerar a virtude da obediência.

Nossa Senhora nomeou explicitamente a Rússia. Não falou do mundo, ou do mundo incluindo a Rússia, mas apenas da Rússia. Seria demasiado audacioso dizer que, até agora, Nossa Senhora não foi levada muito a sério?

Nenhum indivíduo pode julgar ou dar ordens ao Papa, mas isto não quer dizer que ele deixe de estar obrigado a obedecer a Cristo, à tradição, à vontade manifesta de Cristo - e ao senso comum... Com o devido respeito, é preciso sublinhar que o Papa não é o Chefe da Igreja, mas o Vigário de Cristo na terra. Não é o Presidente, mas sim o Vice-Presidente.

A Consagração em União com os Bispos

Já discutimos a conveniência teológica de uma consagração em união com todos os Bispos (cf. The Fatima Crusader Nº 63, pp. 56-57).

Vamos agora examinar as consequências práticas do pedido de Nossa Senhora ao Papa e aos Bispos.

Como dissemos, Nossa Senhora pediu a Consagração da Rússia da seguinte maneira, conforme escreveu a Irmã Lúcia:

“É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração” (Frère Michel, The Whole Truth About Fatima, vol. II, p. 555).

Não pode haver dúvidas de que as palavras “em união com todos os Bispos do mundo” implicam que o ato deve ser feito por todos ao mesmo tempo. Falta apenas um pormenor, o do tempo: É evidente que teria de ser feito no mesmo dia - digamos, Domingo, 8 de Outubro do ano 2000, o último ano do século.

A expressão “todos os Bispos” deve também ser explicada segundo o Código de Direito Canônico (1983),

...Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos por instituição divina; são constituídos pastores na Igreja, para serem mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros de governação (Cân. 375, § 1). Pelo fato da sua consagração episcopal, os Bispos recebem também, com a função de santificar, as funções de ensinar e de governar... (Cân. 375, § 2). Os Bispos chamam-se diocesanos quando lhes foi entregue o cuidado de uma diocese; todos os outros chamam-se titulares (Cân. 376).

O Cânone 375, no segundo parágrafo, não é muito claro com respeito ao poder de "governar," recebido "pelo fato da sua consagração episcopal." Isto é impossível.

Segundo o Cân. 382, § 1, um Bispo “não pode exercer o cargo que lhe foi confiado sem primeiro tomar posse canônica da diocese”. Os Bispos titulares, cuja “diocese” é geralmente um monte de ruínas no deserto, ou coisa semelhante, “pelo fato da sua consagração” não exercem a “função de governo”, segundo o Cânone 967, § 1, com a exceção de poderem ouvir a Confissão universalmente, faculdade esta que pode ser limitada segundo o mesmo Cânone. Qualquer Vigário Geral tem mais jurisdição em virtude da lei do que um Bispo titular (cf. cc. 475ss.).

Como acontece com tantos não se segue o Novo Código de Direito Canônico, temos de consultar o Código de 1917:

Segundo o Cân. 329, o Bispo governa uma Igreja particular (ecclesia pecularia), enquanto que o Cân. 348 nega jurisdição ao Bispo titular. Os outros Cânones relevantes (cc. 329; 350-355; 948ss.) também não mencionam quaisquer poderes de governação.

Então os Bispo titulares não serão autênticos Bispos? No sentido sacramental, são certamente Bispos; mas, quando à sua jurisdição, não são Bispos no sentido linguístico estrito: “o Bispo da sua diocese”. São apenas auxiliares na jurisdição do Bispo da diocese.

O pedido de união com TODOS os Bispos não parece ser muito claro:

A Irmã Lúcia apresentou as condições que era necessário cumprir para fazer de forma válida a Consagração da Rússia segundo Nossa Senhora pediu em Tuy:

A Rússia deve ser claramente indicada como objeto da consagração;


Cada Bispo deve fazer uma cerimônia pública e solene na sua catedral. (cf. The Fatima Crusader Nº 63).
O que quer isto dizer? Só um Bispo diocesano possui uma catedral. Por conseguinte, considero possível que se cumpriria o pedido se apenas os Bispos diocesanos, e só eles, se unissem à consagração. Mas nesta época de concelebrações, talvez fosse conveniente, só o ponto de vista teológico, que os Bispos auxiliares se juntassem aos seus Ordinários diocesanos para que o colégio episcopal consagrasse a Rússia na sua plenitude.

Resta outra pergunta. Como é que o Papa poderia levar os Bispos a fazer esta consagração? A pergunta pode ser difícil de responder na vida política, mas sob o ponto de vista da fé e dos costumes é bem simples.

O Papa detém a primazia, não só em assuntos de fé e de moral, mas também da disciplina e governo da Igreja (DS 3060, Cân. 331). Segundo o Cân. 333, § 1, (1983) este poder estende-se “sobre todas as Igrejas particulares e agrupamentos de Igrejas”, e ele tem o “direito, segundo as necessidades da Igreja, de determinar o modo de exercer esta função, tanto pessoal como colegial” (Cân. 333, § 2). Não há apelo nem recurso contra uma decisão ou decreto do Pontífice Romano (Cân. 333, § 3). Todos os Bispos, mesmo os diocesanos, estão sujeitos a esta autoridade, se reservada (cf. Cân. 381). “A Igreja tem o direito inato e correto de coagir os membros dos fiéis cristãos, por via de sanções penais” (Cân. 1311). O legislador supremo e juiz da Igreja pode dar ordens aos Bispos por um decreto, sob pena de se aplicar a sanção automática “contra certos delitos particularmente traiçoeiros que podem resultar num escândalo mais sério ou não podem ser castigados devidamente por meio de sanções aplicadas” (Cân. 1318). Se um Bispo ignora culpavelmente (Cân. 1321) “preceitos legítimos... da Sé Apostólica” (Cân. 1371) E ameaça, a “penalidade justa” (Cân. 1371) pode ser ainda mais severa (Cân. 1326).

Falando claro: O Papa pode e deve ordenar os Bispos a que se unam a ele na consagração, sob pena de uma sanção justa, como, por exemplo, a suspensão do seu cargo se o não quiserem fazer. Só assim se cumpriria o pedido de Nossa Senhora: a Irmã Lúcia me enviou que “muitos Bispos não deram importância a este ato” (cf. The Fatima Crusader Nº 64). Mas darão importância a este ato sob a ameaça de perderem a sua posição, o bispado, honras, vencimento e confortos, se não estiverem interessados no destino das suas almas. Só assim é que todos os Bispos ser uniriam à consagração, como os que não cessaram de ser Bispos. (Isto é mais uma indicação de que, provavelmente, as palavras de Nossa Senhora se referem apenas aos Ordinários locais, porque podem perder os seus cargos, mas nunca a sua consagração).

Portanto:

O Papa deve ordenar e requerer a cada Bispo em união com ele que consagre pública e solenemente a Rússia (e só a Rússia) pelo nome ao Imaculado Coração de Maria, na sua catedral respectiva, no mesmo dia marcado e à mesma hora marcada, e que se faça esta consagração sob pena de suspensão imediata e automática (Latæ Sententiæ) se a execução desta ordem e pedido for deficiente.

Quando recordo que o Padre Gruner foi ameaçado de excomunhão por pregar a mensagem de Nossa Senhora e por afirmar os seus direitos canonicamente garantidos, creio que a penalidade de suspensão, acima indicada, até é demasiado branda, mas poderá servir para o efeito prático.

4. OS PEDIDOS DE NOSSA SENHORA FORAM ATENDIDOS?

A resposta é definitivamente negativa. De entre as centenas de citações em números anteriores de The Fatima Crusader que respondem a esta pergunta, bastaré recordar três:

O Padre Gruner disse:

“O Papa consagrou o mundo várias vezes. Fê-lo em 7 de Junho de 1981. Tornou depois a fazê-lo com muito mais cerimónia... perante um milhão de pessoas em 13 de Maio de 1982. E novamente em 25 de Março de 1984. Consagrou o mundo todas estas vezes, mas nunca consagrou a Rússia da maneira pedida por Nossa Senhora de Fátima”. (cf. The Fatima Crusader Nº 64).

Na mesma entrevista, o Padre Gruner disse:

[...] “depois de consagrar o mundo em 25 de Março de 1984, o Papa João Paulo II reconheceu, perante cerca de 250.000 pessoas na Praça de S. Pedro, que não tinha feito o que Nossa Senhora de Fátima pedira. Disse: ‘Iluminai especialmente os países de que esperais a nossa consagração e entrega.’ E disse isso depois de ter feito a consagração do mundo. Portanto, sabe que não cumpriu o que Nossa Senhora de Fátima pediu”. (cf. The Fatima Crusader Nº 64).

Citando a Irmã Lúcia, o Padre Paul Kramer disse:

“Eis o que a Irmã Lúcia realmente disse depois da consagração do mundo de 25 de Março de 1984. Em 20 de Julho de 1987, a Irmã Lúcia declarou a Enrique Romero, numa entrevista depois publicada, que a Consagração da Rússia pedida por Nossa Senhora de Fátima ainda não fora feita. Numa entrevista publicada no número de Setembro de 1985 do Sol de Fátima, perguntaram à Irmã Lúcia se o Papa tinha cumprido o pedido feito por Nossa Senhora em Tuy quando consagrou o mundo em 25 de Março de 1984. A Irmã Lúcia respondeu: ‘Não houve a participação de todos os Bispos, e não houve uma menção da Rússia.’ O entrevistador perguntou então: ‘Portanto, a consagração não foi feita como Nossa Senhora pediu?’ A Irmã Lúcia respondeu: ‘Não. Muitos Bispos não deram importância a este ato’”. (cf. The Fatima Crusader Nº 64).

Isto responde amplamente à pergunta e, infelizmente, com a negativa.

Já foi levantada a questão de se seria heresia dizer que as pequenas alterações que ocorreram desde 1989 se poderiam ver como uma vitória de Nossa Senhora. Eu respondo: não é heresia, é simplesmente uma fantasia, um coisa disparatada, ou o nome que se lhe quiser dar. Teologicamente não pode ser heresia, visto não se tratar de matéria de fé.

Política e historicamente, é evidente que é absurdo. Filosoficamente é um disparate, e o senso comum condenará este erro como uma loucura. É por demais óbvio que todas as promessas para uma eventual consagração ainda não se cumpriram. O Padre Paul Kramer escreveu 12 artigos sobre este tema (cf. The Fatima Crusader Nº 64), pelo que não é preciso acrescentar mais.

5. COMO INTERPRETAR O 8 DE OUTUBRO

Há várias possibilidades:

O Papa não faz menção específica da Rússia, como Nossa Senhora pediu: Neste caso, falta mais uma vez uma das condições principais e a Consagração não foi feita.

O Papa menciona a Rússia, mas não em união com os Bispos: Neste caso, não foi respeitada outra das condições principais e a Consagração não foi feita.

O Papa menciona a Rússia, mas não em união com todos os Bispos diocesanos: Neste caso, como é condição principal que todos os Bispos se unam, a Consagração não foi feita.

O Papa menciona a Rússia, em união com todos os Bispos diocesanos, sob pena de suspensão dos seus cargos, mas vários Bispos auxiliares recusam: Não vejo como isto possa invalidar a Consagração, e considero-a como feita.

O Papa menciona a Rússia em união com todos os Bispos, mesmo se tal se conseguir apenas sob coação: considero-a feita, porque fizeram um ato público, embora fosse apenas sob coação.

O Papa menciona a Rússia e todos os Bispos se lhe unem de todo o coração: ...bem, sonhar não custa... .

6. CONCLUSÃO

Hoje é a festa do Arcanjo S. Miguel, e não sei o que acontecerá em 8 de Outubro, mas tenho um forte pressentimento. Não me critiquem por me ter tornado um pouco pessimista, à luz das últimas décadas da história da Igreja: creio firmemente que os pedidos de Nossa Senhora de Fátima não serão atendidos em 8 de Outubro. Fico a rezar para que, na altura em que lerem este artigo, me tenha enganado, e celebraria de boa vontade um Te Deum público neste caso, mas nem por um minuto acredito que tal aconteça.

Os fatos esclarecer-nos-ão, mas que havemos de fazer se tiver razão?

Nossa Senhora indica-nos o caminho correto:

  1. Primeiro, e, sobretudo (!), não devemos sequer discutir Fátima se – por negligência –ainda não cumprimos os Cinco Primeiros Sábados de Reparação;
  2. Segundo, seria bom cumprir os Cinco Primeiros Sábados, mas uma vez: (a) para agradar a Nossa Senhora, (b) por uma questão de segurança;
  3. Terceiro, devemos levar outras pessoas a cumprir os Cinco Primeiros Sábados e ajudá-las em especial na maior das dificuldades: encontrar um sacerdote verdadeiramente Católico para a Confissão e Missa (e/ou Comunhão);
  4. Quarto, devemos fazer a nossa Oferta diária ao Sagrado Coração e ao Imaculado Coração com intenção de Reparação;
  5. Quinto, devemos manter-nos muito fiéis ao Santo Rosário, que é a forma de rezar mais importante, tirando a Santa Missa;
  6. Sexto, devemos pregar esta devoção de forma católica: firme, mas nunca incomodando;
  7. Sétimo, devemos apoiar de boa vontade e ativamente quem pregar e difundir a mensagem de Nossa Senhora.



Pouco mais podemos fazer, mas cada vez mais pessoas o farão, à medida que nos aproximamos do Triunfo do Imaculado Coração, Que no Dia do Juízo se lembrará de todos quantos O ajudaram.

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